Quando diariamente me sento em frente ao televisor para ver e ouvir os telejornais, sinto que estou à hora certa, no sítio certo, mas a gramar com a coisa errada. Quando espero ver e ouvir falar do meu país real, do mundo real e de todo o mundo, das coisas que acontecem ou estão para acontecer que me digam respeito, me esclareçam as dúvidas, me despertem o interesse, me ensinem, me animem de alguma forma o ego, eis que sou obrigado a ver e ouvir falar da alta finança, dos negócios de milhões, dos jogos de interesse e de poder. Enfim, tudo aquilo que menos interesse me pode oferecer e, suponho, menos interesse pode oferecer à grande maioria dos telespectadores, é aquilo que os telejornais insistem em me oferecer. Como que este país e mundo fossem um pequeno grupo de especuladores, ávidos por saber das movimentações que fazem descer ou subir o valor das acções desta ou daquela empresa, deste ou daquele mercado, deste ou daquele país. Um dia o banco x faz um OPA (oferta pública de aquisição) ao banco y. No outro dia este banco y faz uma contra OPA àquele banco x. Imediatamente é pedido ao banco principal que fiscalize aquela primeira OPA e, logo de seguida, verifique a legalidade desta segunda. E lá estão os telejornais a querer saber e a mostrar aos seus fiéis telespectadores, com todos os pormenores e com entrevista em directo com o director do jornal tal, o fiscalista tal tal, o economista tal tal tal, o académico tal tal tal tal e sei lá bem que tal esperto mais entrevistam, para que nos sejam esclarecidas todas aquelas movimentações, que mais parecem dum outro mundo que não o meu, ou o dos muitos outros telespectadores como eu. E outro dia zangam-se os accionistas, mudam-se os administradores, os senhores da massa. E vem a oposição dizer que o governo tem que ver com isto. E lá vem a governo desmentir, dizendo que nada tem a ver com aquilo. E lá vem, outra vez a entrevista em directo nos telejornais, com o comentador tal, o politólogo tal tal, o analista tal tal tal, o inteligente (que de tudo sabe) tal tal tal tal, esclarecer, numa amena cavaqueira entre eles e o pivô, para mostrar de que lado está a razão; se de uns ou de outros. E eu, uma vez mais, continuo a gramar com aquelas conversas de surdos, de retóricas sublimadas por cifrões, que nem me aquecem ou arrefecem. E continuo a desesperar por querer saber do que de verdadeiramente interessante se passa no meu país ou mesmo nos países que não o meu. Mas estes assuntos vão consumindo o tempo ao tempo que eu queria para que me falassem e mostrassem aquilo que eu e muitos como eu gostariam de ver e ouvir falar, a sério: de nós!
Perguntei ao João, de seis anos de idade, se me sugeria um tema para sobre ele escrever. Adverti-o de que quando se escreve num jornal teremos de ir ao encontro do gosto de pessoas diferentes e de que teremos de falar de algo que as prenda, de forma a não pararem a leitura ao primeiro parágrafo. O miúdo respondeu-me que eu deveria falar sobre a dificuldade que por vezes se sente em encontrar um tema para falar. Fiquei surpreso pela secura da sugestão, confesso! Naquele momento não atingi a dimensão daquela sua evasiva. Aligeirou dizendo que sentia que naquele momento eu estava sem inspiração e que o estava a colocar numa situação embaraçosa. Confessou-me que também ele próprio estava um pouco baralhado, tantos eram os assuntos que poderiam ser tratados. Contudo, não sabia o assunto que mais importância tinha para mim, para os leitores do jornal, e que nem estava muito preocupado com isso, até porque à pergunta que me tinha feito ao final daquela tarde, e que gostaria de obter uma resposta, sobre como nasciam as crianças do meu tempo, quando as mães não iam para o hospital para as terem e se em casa usavam uma faquinha afiada para lhes abrir a barriga, eu lhe tinha respondido que não era assunto para ser falado naquele momento, porque ele era muito pequenino para entender certas coisas. Compreendi a sua falta de interesse em me auxiliar na procura do tema para escrever e que dele me tinha socorrido para o encontrar! Agora, que o João foi dormir e já que com ele não posso contar para me sugerir o que quer que seja sobre o que possa escrever, lembro a última consulta a que o levei ao Dr. João, seu médico de família. Na altura queixava-se de dores de barriga e, porque tinha sido operado ao apêndice recentemente, o médico, na palpação, perguntava-lhe se lhe doía com a mesma intensidade à dor que sentiu no dia antes de ser operado. Ao que ele respondeu: “os sintomas são completamente diferentes; esta dor nada tem que ver com a outra, até porque agora está centrada na barriga e não de lado, não se me prendem as pernas e, parece-me, não tenho febre”. O Dr. João olhou-me estupefacto, abriu a boca de espanto e respondeu: “bem, com um diagnóstico assim, posso ir almoçar descansado”. Se, ao final da tarde, quando meio embaraçado não respondi ao João, tenho lembrado a sua última consulta, acreditem que lhe tinha dito que quando se nasce – como eu nasci – assim como uma grande parte das crianças, nem sempre é necessário cortar a barriga da mãe, porque saímos livremente por um orifício do seu corpo chamado vagina. Por que será que tantas vezes somos patéticos quando as crianças nos fazem perguntas sérias?!
Enquanto na árvore parceira de tanta sede as folhas se agitam distraídas ao sopro dum vento de arrepio à sombra dela levo-te aos olhos um raio de sol e ao peito uma brisa quente e saboreio todas as gotas da tua boca antes da primeira da tua erupção. E, embriagado nelas ardo no fogo que me vai consumindo… E verto-te depois no teu mais profundo desejo. E digo, então: tão bom possuir-te assim de alma e carne intensa e despudoradamente à última luz que a tarde nos quis guardar...
No dia 18 de Dezembro de 2009, por “acidente” - desconhecia este espaço da NET - entrei no site Luso Poemas. Gostei e passei a escrever os meus poemas, textos e algumas homenagens por lá.
Para espanto meu, passados 9 meses, apenas, fui lido por 50.000 pessoas.
Para os mentores e administradores do site, usuários (poetas) e leitores, o meu muito obrigado.
Pela língua portuguesa, pela poesia e cultura em geral, a merecida homenagem!
Parabéns a todos os poetas de lá.
Nota: o site é português – de Portugal – e aberto a quem escreve e gosta de poesia em língua portuguesa.
Pelo 10º ano consecutivo, realizou-se na Vila do Gerês, concelho de Terras de Bouro, o Encontro Nacional de Poetas.
Com um número impressionante de participantes/poetas, oriundos de todos o país, o encontro/tertúlia desenvolveu-se sob a organização conjunta do Município de Terras de Bouro, da CALIDUM - Clube de Autores Minhoto/Galaicos e jornal POETAS E TROVADORES.
Uma vez mais foi dada voz a todos quantos com a poesia preenchem a alma...
Vestiram de gala a minha montanha e eu fui lá, ao cimo das pedras saber do lírio do Gerês. E ele nem sabia nem queria saber das luzes que se acendem que não as do Sol! Prometi-lhe um poema outra vez; garantiu-me o chão onde se quer e me quero sempre…
para oferecer a uma amiguinha da turma? Claro. Como dizer-te não?!... Diz se gostas: Um dia, lá para o Inverno quando o céu cedo escurecer vou trocar contigo os meus lápis de cor… É esse o poema? Assim?!... Que palermice!!! Obrigado, não te incomodo mais. Hoje estás sem inspiração, já vi! Espera, não me deixaste concluir!... Se de ti receber nos meus olhos a cor linda dos teus para contrariar a luz que vai faltando à tarde!...
Beijo... longo, quente, molhado Beijo… vertido na sede da boca da fonte que ferve aos lábios levada Beijo… de lava coada na língua Vulcão aceso explosão!... Beijo… sentido crescido no peito Beijo… doce, malvasia Beijo… razão Beijo… maior enorme! Beijo… também ansioso!
Conto os segundos da tua ausência e a cada um deles vais somando mais em mim… E se o relógio ao longe na paisagem se quebrar cobro ao sono as horas todas!