Local: Auditório do Centro de Animação Termal do Gerês
Enquanto fundador e presidente da direção da CALIDUM - Clube de Autores Minhoto/Galaicos, quero saudar o autor e amigo Pontes Oliveira pela magnífica obra que connosco traz à estampa, onde num relato fiel e na primeira pessoa nos mostra, libertando-se também, como viveu e se viveu a guerra colonial portuguesa em África, numa das suas três frentes: Angola.
E porque a memória, se partilhada à mira da letra, pode, paradoxalmente, adormecer noites de pólvora ainda acesa na garganta. Os traumas, se não se apagam, podem, pelo menos, arrumarem-se...
Porque a vida deve recomeçar, sempre que a queremos ainda melhor...
A princípio é simples, anda-se sozinho, passa-se nas ruas bem devagarinho está-se bem no silêncio e no borborinho bebe-se as certezas num copo de vinho e vem-nos à memória uma frase batida: hoje é o primeiro dia do resto da tua vida!
Pouco a pouco o passo faz-se vagabundo dá-se a volta ao medo e dá-se a volta ao mundo diz-se do passado que está moribundo bebe-se o alento num copo sem fundo e vem-nos à memória uma frase batida: hoje é o primeiro dia do resto da tua vida!
E é então que amigos nos oferecem leito, entra-se cansado e sai-se refeito luta-se por tudo o que se leva a peito bebe-se e come-se se alguém nos diz bom proveito e vem-nos à memória uma frase batida: hoje é o primeiro dia do resto da tua vida!
Depois vêm cansaços e o corpo fraqueja olha-se para dentro e já pouco sobeja pede-se o descanso por curto que seja, apagam-se dúvidas num mar de cerveja e vem-nos à memória uma frase batida: hoje é o primeiro dia do resto da tua vida!
E enfim duma escolha faz-se um desafio enfrenta-se a vida de fio a pavio navega-se sem mar sem vela ou navio bebe-se a coragem até dum copo vazio e vem-nos à memória uma frase batida: hoje é o primeiro dia do resto da tua vida!
Entretanto o tempo fez cinza da brasa outra maré cheia virá da maré vaza nasce um novo dia e no braço outra asa, brinda-se aos amores com o vinho da casa e vem-nos à memória uma frase batida: hoje é o primeiro dia do resto da tua vida!
Pediu lume e acendeu o instante Entregou no rio, ao fundo, o olhar e deixou possuir-se sem pressa… Voltou aos versos que lhe escorriam das mãos trémulas molhadas vertendo no chão gotas mornas de si e pediu ao silêncio que lhe declamasse a noite ali, na estação à espera da última partida…
Com um abraço ao Afonso, à Bárbara, ao Nuno e ao Pinho, músicos privativos da CALIDUM e obreiros desta canção, que me surpreendeu na apresentação de "Coração de Algodão"