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POEMAS E RECADOS

poemas e textos editados e inéditos de JOÃO LUÍS DIAS

POEMAS E RECADOS

poemas e textos editados e inéditos de JOÃO LUÍS DIAS

A PROPÓSITO DE EQUIDADE...


A PROPÓSITO DE EQUIDADE, TRABALHADORES E OUTROS MALFEITORES


Como funcionário público (e peço desculpa por pertencer a esta espécime de malfeitores) desde sempre me habituei a trabalhar muito para além do tempo que me é obrigado, e sempre o fiz e faço a troco, apenas, do gosto de bem-fazer e nada mais. E não sou, acredito, o único “malfeitor” com esse gosto curioso, quiçá, esquisito, ou mesmo anedótico, de dar mais do que aquilo que me pedem; precisaria de muitas mãos e muitos dedos para os contar a todos. E se o que acabo de dizer é fazer justiça a quem a merece, está feita então por mim aqui. 

Mas, se “malfeitores” o continuarmos a ser, que o sejamos até no excesso do horário de trabalho. De benfeitores está o inferno cheio e o paraíso e o céu fartos deles. E não digo mais, para não dizer demais...
Claro, atento à tão falada equidade (público/privado) apenas dela direi que melhor será nem dizer nada!



Earth Song

 

Já algum vez abraçaram uma árvore ou afagaram uma pedra áspera? Já alguma vez sentiram que num abraço ou num afago, metade da sensação é nossa? Já testaram isso? Já sentiram esse conforto?!

 

Pergunto!...

 

 

QUEM DIZ O QUE NÃO DEVE, PODE OUVIR O QUE NÃO QUER

 

 

Fui hoje a uma consulta de oftalmologia. O médico, que pela primeira vez me consultava, aparentava ter pouco mais de 60 anos. Sempre compenetrado e sério, observou-me os olhos e depois, já sentado na secretária, comigo em frente, prescrevia a ordem para feitura das lentes. Enquanto isso, fui-lhe perguntando: 

- Então, sr. doutor, que graduação necessito?
- Dois e meio – respondeu.
- Um pouco elevada! – observei.
- Nem por isso, para quem tens quase 80 anos! – afirmou, com naturalidade e sem fazer parecer qualquer anormalidade no diagnóstico. 
Surpreendido, certo que só uma ironia justificaria a sua afirmação em relação à minha idade, com a mesma serenidade e firmeza, respondi-lhe:
- Sim, claro, nada de anormal. O doutor, com quase 100 anos, ainda consulta, e não lhe vejo fundo de garrafas a servirem-lhe de lentes.
Levantou a cabeça, franziu o sobrolho, olhou-lhe… e continuou a prescrição.
Finalizada a consulta, despedimo-nos, saí e ele ficou. E eu vim com a certeza de que ele não repetirá a “graça”, se graça não demonstrou ter; pelo menos que os seus olhos a fizessem transparecer… 

(Agora, num aparte, pergunto a quem me conhece: caramba, será que aparento ter mais de 70 anos?!)



INTIMIDADE

 

Quebrei no teu peito

um glaciar de silêncio

Poisei-me na noite

e fiquei no teu colo

à espera

a querer saber de mim

Falei-te intimamente

soletrando cada palavra 

rasgada à garganta

de coisas minhas

sérias 

enormidades do coração!

Falei-te de tantas coisas 

que nunca ousara

Abri o livro

na página que interrompera

quando um dia

ao fechar dos olhos

acomodado num peito morno

me deixei adormecer...