que morrerá de pé, diferente de nós. E é, olhando-a do chão da minha pequenez que descubro que em cada "braço" que lhe aparo a elevo mais ao meu olhar... E fico quieto, como quieta ela está no seu esplendor. E celebro-lhe a vida quando a decepo. Paradoxo!
Começou numa imagem, ficou num poema. E assim, neste exercício do sentir e das palavras, se fazem as coisas da vida. Eu chamo poema, mas podem chamar-lhe outra coisa qualquer. Mas é isto a poesia: dizer das coisas grandes aos pedacinhos...
Ferve nos olhos despertos chuvas caídas dum céu de inverno que depois adoça. Derrete no peito quente o chão gelado dum glaciar achado no fim do mundo. Nas mãos, afaga flores da Babilónia
colhidas antes do despertar do sono. No jeito e génio, agita a cordilheira... mas beija cada serra ao entardecer. Tem nome, como de flor perfume de pétalas prensadas mas é muito mais que um só canteiro mais, ainda, que todo um jardim…
Não desgosto do ruído dos automóveis ao passar nas ruas da cidade. O som do silêncio chega a fazer ruído maior. O som da chuva é monocórdico não aprecio. Hoje quero ensurdecer à minha janela no ruído feito no meu silêncio sem chuva a cair sem automóveis a passar sem mais ninguém calado; só eu e ele, aos gritos...
Reza a história que Pitágoras não parava muito em casa e que Enusa, sua mulher, aproveitava a situação para copular com quatro soldados cadetes, que estavam acantonados ali perto. Um dia em que Pitágoras voltou para casa mais cedo surpreendeu-os e matou os cinco, decidindo enterrá-los no seu jardim. Movido por alguma consideração que ainda tinha pela esposa, dividiu o terreno a meio e, numa das metades, sepultou-a. A outra metade foi dividida em quatro quadrados iguais, onde enterrou os soldados cadetes. Desta forma, os quatro soldados cadetes ficaram a ocupar um espaço idêntico ao ocupado pela mulher. No dia seguinte, Pitágoras subiu à montanha para meditar e, olhando de cima, teve uma revelação. Era óbvio: "O quadrado da puta Enusa era igual à soma dos quadrados dos cadetes."
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(Se me tivessem explicado isto assim na escola, provavelmente não teria ido para letras.)
A tarde já se havia cumprida e o livro já se havia fechado para aquele dia. Abre-se, então, a porta para deixar entrar e pernoitar quieto e aconchegado no tempero da noite o primeiro dos versos garantidos no dia seguinte. Porque um poema tal como uma lágrima não espera mais do que o tempo de enxugar.
Pela manhã quando sol se espreguiça no canto nascente do dia vou à janela presentear o olhar... Ao entardecer quando o sol se pousa no poente e acena a despedida vou ao quintal agradecer-lhe por me ter aceso o dia. À noite quando a lua se enche de esplendor olho o céu e falo-lhe de sonhos… Para encontrar o que mais no fundo procuro em mim iria, a qualquer hora para lá da minha estrada para lá do horizonte para lá fim do mundo…
Apetece-me o acordeão no gemer sustenido dum acorde; o beijo dos pombos na árvore verde à rua cinzenta Apetece-me... sei lá... saber de Paris do sol e do nevoeiro e saber-te no lugar que te sei