PHILOSOPHY
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Tive o prazer de escrever a letra/poema para esta canção
Vivam os letrados, os menos formados e os analfabetos. Mas estes estão ainda a tempo de aprender, se quiserem e os ensinarem.
Vivam os heterossexuais, os homossexuais e vivam também os que não são “carne nem peixe”.
Vivam as mulheres e os homens, as crianças e os idosos. E, já agora, vivam também os “filhos da mãe”. Mas estes que vivam menos.
Vivam os dentistas, os trapezistas, os músicos, os agricultores. Mas estes que se deixem de procurar mulher para casar em programas de televisão, que se sujeitam a levar para casa uns tamancos, convencidos que ganharam uns sapatos novos de estilo requintado.
Vivam os gratos, os gatos, os cavalos de puro sangue e os outros também. Mas os ingratos que vivam longe, pois nem os animais os querem por perto.
Vivam as vendedoras de flores, os condutores de tratores, os gigantes e os anões, mas vivam muito pouquinho os aldrabões.
Vivam os criadores, os sonhadores, os pintores e os comedores. Mas estes que vivam afastados, para deixarem os outros comerem também.
Vivam os palhaços, os poetas, os honestos e os trapaceiros. Mas estes que vão viver “p'ro caralho”. Sim, para esse lugar, bem lá no alto do mastro do navio, para levarem com o vento nas trombas.
Viva eu, que também mereço e viva o meu vizinho, que é boa pessoa.
Vivam todos, mas uns mais perto de nós do que outros.
(Para canção)
Folhas ao vento
Podem ter que voltar
Vou querer parar o tempo
Já aprendi a te esperar
Rego a vontade
Cá dentro do meu peito
Colho flores ao fim da tarde
Dum jardim feito ao meu jeito
Guardo o perfume
Que um dia me deixaste
Nos olhos acendo o lume
Deito o sono onde sonhaste
Invento a noite
Linda, sempre a brilhar
Caso a vontade e a sorte
Vejo-te à noite ao luar
Tenho a estrada
Um chão só meu
Saudade e eu…
Adio o beijo p´ra ti
Solta o olhar e sorri
Dentro do peito tenho a pulsar
Razão maior p´ra te abraçar
Se em novembro, pelos finados,
de céu cinzento e chuva certa,
colheres flores viçosas do chão,
é sinal que o sol brilhou
e nem sempre se escondeu,
que o melhor da primavera ficou...
que a lembrança não morreu
e que a vida não foi em vão.
Poema de minha autoria
Voz de Tiago Correia
Encolheu os ombros,
suspendeu os braços
e deixou o sangue arrefecer
nas pontas dos dedos.
O céu acinzentou-se,
fez-se baço o horizonte
e o crepúsculo apagou
todas as linhas da mira dos olhos.
Fez-se noite prematura
de estrelas ainda apagadas.
A lua abortou acocorada e fria.
A noite gelou no escuro
e o gato, num rompante,
mergulhou no aquário
e surpreendeu
o último peixe azul.
Das tílias caem as folhas secas
deformadas e sem cheiro.
O sol, ao entardecer,
já não sai aceso como saía,
por entre os ramos dos plátanos.
É outubro, prenúncio do frio,
do céu cinzento e tímida cor,
na eminência das chuvas.
O inverno já se estende ao testemunho
para continuar a estafeta.
E outros pássaros virão,
saudosos do aconchego dos ninhos
que resistiram...
Quero-te devagar
com mãos de seda
toque de embalar
boca de amêndoa
lábios de sede
e beber-te e saborear-te
sem tempo e sem reservas…
Depois, em sofreguidão
no acender dos olhos
no transpirar das mãos
no desespero do corpo
ao desnorte do desejo
quero amar-te
intensamente
até ao verter das fontes
Não sei que vento me sopra
mas sinto o vento a soprar...
Se é vento norte, não sei
Sei que é vento, é vento forte
Vejo as folhas, tantas folhas
em rodopio agitar...
Não sei que vento me sopra
mas sinto o vento a soprar...
E as flores humedecidas
de perfume, ao sol raiar
gemem ao vento que sopra
ao mesmo vento que sinto
no meu peito a fustigar…
Não sei que vento me sopra
mas sinto o vento a soprar...
Olhei, quieto nos teus olhos
grávidos de aromas e candura
um ventre em flor a abrir na primavera.
Entontecido, porque embriagado
no campo limado e morno do entardecer
falei-te e disse quase nada
por não saber dizer mais do teu olhar.
E volta de ti um poema
um poema maior
declamado em sussurro
que me trespassa pelo peito
como flecha acesa de licor e lume
tombando-me ao crepúsculo dos teus olhos
no salpicar imenso das palavras.
E fico internado na metáfora enorme
que teceste lá dentro...
Existe um lugar
lá dentro
onde nos queremos eternos…
Existe um lugar
lá dentro
onde as cinzas permanecem.
Existe um lugar
lá dentro
onde somos para além dos gestos
do toque, do sol, da chuva, do vento
do cheiro das flores
do arco-íris, do sono.
Existe um lugar
lá dentro
bem no fundo, íntimo
onde existimos muito
e revelamos pouco.
Quebrei no teu peito
um glaciar de silêncio.
Poisei-me na noite
e fiquei no teu colo
à espera, a querer saber de mim...
Falei-te intimamente
soletrando cada palavra
rasgada à garganta
de coisas minhas, sérias
enormidades do coração.
Falei-te de tantas coisas
que nunca ousara...
Abri o livro na página que interrompera
quando um dia, ao fechar dos olhos
acomodado num peito morno
me deixei adormecer...
Quando o coração chama
e o corpo pede
em horas diferentes
ou há mesma hora
pode ser
amor inteiro e completo, sim
Apetece-me
um lírio agreste
uma pedra da montanha
uma praia
um braço de mar
uma caravela
um vento a bombordo
um navio
a espuma branca
de uma onda inquieta.
Apetece-me
o sal, o sol, o luar
um perfume doce
salpicado no peito.
Apetece-me
o acordeão
no gemer sustenido dum acorde.
Apetece-me
o beijo dos pombos no chão da cidade
e olhar a árvore verde
que se agita na rua cinzenta.
Apetece-me
sei lá...
saber de Paris
do sul, do nascente
do polo norte,
do frio e do nevoeiro.
Apetece-me
saber de mim
e saber dos lugares que não sei.
Apetece-me…
tudo que me leve
às margens do sentir.
Com ar de manhã de sol
de salto alto e uma rosa rubra
plantada no canteiro dos olhos
passa pelas ruas da cidade...
E a cidade, assim perfumada
acha-se Paris, vestida de charme
EXEMPLO/TESTEMUNHO de sucesso na cura, que trago aqui.
Chama-se Rúben e pertence às forças de segurança nacionais – GNR.
O Rúben foi infectado com o Covid-19. Recolheu-se, resguardou-se, protegendo quem o rodeia. Curou-se. O vírus, para ele, já era. Preferiu a coragem, ao medo.
O Rúben, além de jovem, padeceu no passado recente de cancro na bexiga. Está curado dele.
O Rúben fez e faz hemodiálise. Aguarda o transplante dum rim. Durante o tempo da sua infecção/doença fez semanalmente tratamento hospitalar. “Não poderia deixar de o fazer, pois morreria ao fim duma semana, se não renovasse o sangue”, disse-me.
O Rúben é um guerreiro e um exemplo que nos deve dar alento. E falou-me, com lucidez, do processo de doença, dos sintomas e do quanto o ânimo é importante nesse período. E disse-o melhor do que mil cientistas, ou “profetas”.
O Rúben sabe, como todos deveremos saber, que o Covid-19 pode ser fatal para os mais frágeis, pelo que os devemos e nos deveremos sempre proteger.
O Rúben permitiu-me falar do seu caso e posou em foto, com este belíssimo aspecto.
Vou plantar os teus olhos no céu
para que a noite nunca escureça.
E a lua e as estelas poderão, também elas
fecharem-se em quarentena.