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POEMAS E RECADOS

poemas e textos editados e inéditos de JOÃO LUÍS DIAS

POEMAS E RECADOS

poemas e textos editados e inéditos de JOÃO LUÍS DIAS

Há hora de nada

 

(Dedico à Prazeres, que me pegou no colo)

 

 

Da eira, a avenida pacata e quieta.

Nos pés, as meias de lã tricotados ao serão

depois do terço rezado em família pela hora do cear.

No corpo, a saia travada, costurada em pano de terylene,

quando aprendiz de modista nas horas que lhe sobraram…

No cabelo, farto, três ganchos seguram o "tornico"

enrolado pela manhã, no ritual dos dias madrugados.

Na varanda da farmácia do Barroso ninguém se debruça

ao cheiro das floreiras envaidecidas de rosas vermelhas

e ninguém espreita do pátio do Funileiro

o chegar da camioneta da carreira.

No táxi e no Fiat do Afonso Novo não entra nem sai ninguém.

As laranjeiras, de tronco esguio,

vão medrando ao calor dos dias sem pressa.

A Prazeres está só, e não se importa de olhar e de esperar...

E olha a gente que não passa.

E olha os carros que não passam.

E olha... como tudo lhe seja movimento;

como tudo esteja para chegar…

 

inédito