Vilarinho da Furna
(Foto - Mark Sparrow - Edição Município de Terras de Bouro)
À memória da terra que o "progresso" afundou
Outrora na minha terra
Rendilhada com mil cores
Cresciam pastos e flores
Medrava o gado na serra...
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(Foto - Mark Sparrow - Edição Município de Terras de Bouro)
À memória da terra que o "progresso" afundou
Outrora na minha terra
Rendilhada com mil cores
Cresciam pastos e flores
Medrava o gado na serra...
Trago-te
a brisa que me sopra no peito
quando cavalgo pela manhã
Trago-te
o aroma das papoilas que invento
num prado de pasto tenro
Trago-te
fechado no peito morno
a última folha
Trago-te
pouco mais
Inédito
De braço dado ao silêncio
pergunto:
porquê um poema mais
se nos consome as horas vazias
a chuva fria soprada a norte
e um fogo abafado em cinzas
numa lareira esquecida e morna
Divago...
e nada, ou pouco mais digo
Mas agora mesmo
quando a noite clareia em madrugada
descubro que, afinal, há razão para o poema
e para toda a poesia:
existires
e saber de ti
tão estranhamente perto
tão generosamente mulher!
inédito
POEMA E VOZ DE PEDRO BARROSO
in Sensual Idade
-Caramba, maestro, vais "profanar" este meu espaço de flores, de olhares!...
Mas o que se não faz por um amigo enorme no talento e grandioso no peito?!
João Luís Dias
Foi numa tarde. Tarde, que por ser tarde se ia…
O Sol, já morno, gentilmente pedia ao horizonte permissão para o transpor.
Os passarinhos, silenciosamente, poisavam em seus ninhos, onde, impacientes, iriam esperar pela manhã.
As flores, em ritual, iam fechando em si, uma a uma, as suas pétalas, enquanto se despediam das outras flores que a natureza não dotara com as mesmas características.
E eu, sentado naquele muro, outrora palco de diversão e riso, instintivamente travava as lágrimas que me desciam pelo rosto.
Emocionado, de olhos humedecidos, já não conseguia contemplar o pôr-do- sol e consumir o silêncio que me era emprestado naquele momento.
Enquanto sentado e mergulhado naquele muro, entristecido, uma voz doce e em sussurro soletrado, chamou pelo meu nome e perguntou porque estava eu assim parado e calado, diferente de outros dias.
Desviei o olhar, limpei os olhos e o rosto, e só então lhe dei a atenção que ele me pedia.
Pensei inventar uma desculpa; daquelas que tantas vezes nos servem para manter a prumo o orgulho; que tantas vezes adoptamos para relatar actos de bravura e coragem.
Mas aquele olhar fixo nos meus olhos travou-me a voz e impediu que daquela vez eu me refugiasse, camuflado nas palavras.
Escutamos por instantes o silêncio que nos envolvia, interrompido por um ruído leve provocado por um passarinho que ali perto se acomodava no galho da velha árvore. E eu, embalado na pausa do silêncio, resolvi contar o porquê daquele meu estado de alma que os meus olhos espelhavam.
- Olha, dei-me com intensidade, sem reservas, declarei o meu coração sem temer… e colhi… como me vês!
A criança olhou-me mais uns instantes, agora com o olhar trémulo, tocou-me e depois afastou-se a correr para o aconchego da mãe, creio!
E eu fiquei.
E aquela tarde, já tarde demais, caiu!
in "Ecos dum Silêncio"
Uma carta pode, ou podia, rasgar-se, deitar-se ao fogo e morrer na sua recepção. Mas pode, ou podia, ficar para sempre, como testemunho maior do encantamento de um dia ou de uma vida.
Mas hoje são raras as cartas que se escrevem. E vamos ficando órfãos desses sinais de afectos.
Partilho hoje esta que escrevo. E que volte a saber bem enviar e receber uma carta, mesmo que de amor, ou de pó…
Olá
Parafraseando o poeta – que em trovas perguntava – também eu queria saber: que força é essa que te faz fugir?! Como te escondes?!
Quis saber dos teus motivos e só os poderei entender à luz dum enredo medieval romanceado, onde a princesa, atida às regras e preconceitos do seu palácio, não pode, em tempo algum, imiscuir-se do seu estatuto de nobreza e soltar a boca e a alma, mesmo que o pretendente ao seu afago seja um leal soldado, que a vida daria pelos delírios do seu coração, movidos pelos mais puros ensejos e nobres sentimentos.
Poderia ser forte e crível este argumento, mas, no caso, não me parece fazer qualquer sentido, até porque nem tu és realeza, nem eu soldado. Seremos, tão só, fascinante, tu, quando deixas os teus olhos debruçarem-se sobre um outro olhar que a eles fica cativo e leal guerreiro, eu, quando teimo em cavalgar para perto do encantamento dos teus olhos, para me embriagar no licor do teu “feitiço”…
Bem, deixemos para lá as histórias de encantar, porque ficcionistas existem que as saberão inventar melhor do que eu. Sei bem que à tua mesa dose de cardápio adoçado nem servida à míngua.
Das coisas que a vida me ensinou, uma delas é, sem dúvida, de relevante valor: desistir será, não direi morrer, porque detesto ser terminantemente dramático, mas viver nas imediações da sua antecâmara. Por isso não vou desistir de te querer ver e falar, porque fico dorido e furibundo – porque incompreensível – sempre que me impedem de colher uma flor, mesmo que fechada em canteiros babilónicos, onde poderei sufocar de excesso de aromas.
Mas, mesmo nesses jardins, existirão sempre muros que poderão ser transpostos, com a vantagem maior de nos tornar, se não alpinistas, algo modernamente radicais. E isso fortalece-nos o espírito. E é no espírito que todos os dias renasce o nosso querer. Assim, na dúvida, continuarei…
Um abraço afectuoso
inédito
Vem e acorda o meu sono
Fala-me de ti
dos sonhos que te embalam
e contigo dormem
nas noites que o teu olhar clareou
Corre, antecipa-te ao amanhecer que espera
adia os sobressaltos que sempre se levantam pela manhã
escurecendo o tom de céu que te envolve
e calam um silêncio de encantamento!
Vem, mergulhada nas águas calmas do oceano
que um dia teimaste em inventar!...
Vem e traz as folhas caídas no Outono
as chuvas frias do Inverno
as flores que na Primavera te saúdam
e perfumam a paisagem que transportas
Vem e traz contigo as conversas que te prolongaram os serões…
Vem…
traz o sorriso que ilustra a tua alegria
e realça a beleza que irradias!
Vem
Simplesmente
inédito
Vou poisar-me
querer adormecer
e deixar que o sonho me leve…
E não quero acordar do sono
se o sonho dele me levar a ti…
E se dormir, sonhando assim, é fugir
até de mim
quero-me, então
errante
eternamente!...
Porque te quero saber e sentir
mesmo que seja, apenas
depois de adormecer!
inédito