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POEMAS E RECADOS

poemas e textos editados e inéditos de JOÃO LUÍS DIAS

POEMAS E RECADOS

poemas e textos editados e inéditos de JOÃO LUÍS DIAS

Pronúncio

 

Pensava em ti…
com a noite, já descalça
a aconchegar-se comigo
e vi um clarão
como que explosão do horizonte.
Era um relâmpago
a antecipar um trovão, de velocidade menor
eu sei!
Mas naquele instante em que o céu brilhou
e te vi projectada nele
tão linda, tão meiga, tão sonhada…
quis mais relâmpagos
antecipando mais trovões
mesmo que anunciando, à pressa
a tempestade maior de Abril.
E só para te voltar a ver
tantas vezes, quantas vezes
o céu explodisse em luz.
E depois…
depois poderia vir a chuva
e a tempestade enorme
para me molhar
aconchegado na noite, já descalça
nesta Primavera morna!

Bárbara Passos

 

Porque grande amigo de Bárbara Passos (como se minha irmã mais nova) serei suspeito se a elogiar, mas ora digam lá se não é merecedora de um aplauso, e de pé?

Esta menina dotada de qualidades maiores e de uma simplicidade desmedida terá de ser ouvida por quem gosta de ouvir cantar a sério!...

 

 

 

 

A minha homenagem à sua voz.

Despreocupadamente

 

Vejo e sinto os pés
e o chão por onde passam
e o chão que pisam:
se de terra fria, à sombra
se de areia branca, à espuma do mar
se de asfalto, derretido à fúria do Sol.
Vejo e sei dos pés
e por onde passam…
e por onde param
e por onde se ficam.
E o resto de mim
já nem me preocupa saber;
já não me ocupa de ansiedade
já não me atormenta o sono
porque to entreguei, todo
quando soube de ti
nesse olhar de rio lavado!...

Tom menor (video)

 

Com a minha gratidão à médica e poetisa brasileira Betha M Costa que com a mestria na sua formatação concebeu este video com o meu poema "Tom Menor"

 

Um abraço para ela

 

João Luís Dias

De mão em mão

 

Mostro de mim quase nada

Poema adiado

 

Há um verso que abafa no peito
uma flor à sede no jardim
e um poema desesperado
à espera
que no chão se abra o livro branco
onde o poisar desventrado…
Há um verso
uma flor
um poema
um chão
um livro ainda fechado
e um poeta que adormeceu
e não desperta.
Não o acordem, por enquanto.
O poema terá tempo!
Sempre teve...

Uma espécie de crónica

 

Desta vez queria escrever um texto fantástico. Como que uma espécie de crónica, onde nela desenvolvesse uma ideia genial e aí soltasse todas as melhores palavras e com elas prendesse à leitura até o mais desprendido destas coisas da escrita. Desta vez queria escrever algo mesmo soberbo!
Bem, mas não o conseguirei, claro. Que raio de mania tenho de me iludir com feitos inatingíveis! Que apetência tenho para me deixar perder em delírios do espírito, emoldurados de ambição desmedida!...
Desta vez queria escrever algo à maneira e obrigam-me os olhos a fixar-me em seis colunas de cimento armado, que sustentam um edifício com algumas janelas e sem varandas nenhuma.
Mas como poderei escrever alguma coisa que valha, se, para além das colunas e das paredes do edifício que aquelas suportam, só um passadiço frio tenho para procurar motivos para desenvolver num texto e nele alinhar mesmo as maiores palavras e as mais ricas figuras de estilo literário?!
Hoje, quando queria escrever o melhor recorte de palavras de sempre, tenho apenas para motivo de inspiração meia dúzia de colunas a suportar um edifício sem varandas e um passadiço, por onde se passa e cospe no chão.
Bem - passe o esquecimento - pregada na parede do edifício, fixado pelas colunas que, com o adiantado destas, formam uma espécie de arcada, existe uma caixa de levantamento automático – multibanco – onde, à míngua, se vai colhendo da parede o magro salário e reforma, a quem nem tempo lhes dão para poisarem, para algum temperamento, em depósito. E vão rindo os bolsos e vão gemendo os juros… e vão parando no passadiço, em frente à caixa aprisionada na parede do edifício com janelas mas sem varandas, aqueles que aos pouquinhos vão sacrificando o pé-de-meia, que um dia quiseram fazer crescer, acomodado e guardado na caixa-forte da sua legítima ambição, fruto do amargo trabalho de sol a sol de tantos dias!...
Queria escrever uma crónica maior e obrigam-me os olhos a colher inspiração em seis colunas, num edifício, numa arcada, num passadiço, numa caixa de levantamento automático, crucificada numa parede, onde se levanta à míngua dinheiro e se cospe no chão, enquanto se espera, como que por uma esmola da parede.
Queria escrever algo maior, soberbo, mas não é fácil, se aos meus olhos me prendo e eles me oferecem pouco… E nem em sei se, assim, conseguirei, com vontade, escrever, a sério, algum dia!

Utopia, ou não!

 

O mundo parará todos os dias
aconchegado, até, no nosso colo
se o quisermos
a sério
a todas as horas.
Os dias serão amenos, sempre

se os temperarmos
com sorrisos, também à chuva
e lágrimas, mesmo que evaporadas ao sol
a todos os instantes.
O mundo passará pelos séculos
e ficará
se o soubermos ontem
hoje, também
e o continuarmos a saber
assim...
quando adormecemos
querendo-o muito!
O mundo será o que quisermos
parado, ou em movimento…
se o soubermos, sempre
um pedacinho de todos!