Fechei os olhos deitei na noite o corpo todo e só no peito deixei entreaberta a janela onde me debruço sempre que por ela te olho, ao luar a sorrir no horizonte…
Fechei os olhos adormeci na noite o corpo todo e só no peito deixei entreaberta a janela onde me debruço sempre que por ela te sei e invento tão mulher e linda…
Fechei os olhos entreguei na noite o corpo todo e senti-te debruçada no meu peito onde entraste pela janela que sempre deixo entreaberta para ti!...
O senhor Austrincliniano era um homem prudente. Sabia-o toda a gente da sua região. Nunca dava um passo sem que previamente o medisse. Foi assim que o conheceram desde sempre. Diziam, inclusive, que falava pouco, com medo de entrelaçar as cordas vocais. Apesar disso, sempre foi respeitado e considerado por todos. Chegou a ser responsável político na sua terra. Este homem, de nome esquisito, vestia camisa de meia manga no Inverno e gabardina no Verão, para não ser apanhado de surpresa por uma mudança repentina do tempo. Justificava este estranho comportamento com a expressão o “diabo nunca tem sono nem vontade de dormir!...” Muita gente chegou a censurá-lo por atitudes tais, mas ele fazia-se surdo a tudo quanto contrariava a sua razão. Nunca foi pessoa de dar ouvidos a conselhos e reparos. Em tempos, teve desavenças com o padre da terra, só por este lhe lembrar que as telhas da Igreja não lhe cairiam na cabeça... Levou de tal forma a peito o reparo irónico que imediatamente pediu audiência ao bispo da diocese; queria a transferência do sacerdote. No seu modo de vida, vendia galinhas poedeiras, criadas a grão e côdeas, para que pudessem chocar excelentes pintainhos. Ninguém poderia dizer que não era um homem sério! Chegou a também a vender galos cantadores, ovos de duas gemas e pegas de trave cortada. Neste caso, ele próprio fazia a cirurgia. Nas horas vagas capava porcos e cortava cabelos, mas apenas àqueles a quem considerava. Sempre foi amigo do seu amigo! Quando as notícias da televisão o alertaram de que as vacas andavam a padecer de loucura (vacas loucas) e as galinhas começavam a constipar (gripe das aves), e era, por isso, perigoso comer a sua carne, ele, respeitando os seus cuidados, imediatamente deixou de dormir com a mulher (que passava o dia no galinheiro) e de comer carne de vaca. Este respeitado senhor morreu repentinamente. Toda a gente se surpreendeu com o seu prematuro desaparecimento. Comentavam e tentavam adivinhar a causa que o liquidou… Na autópsia verificou-se que tinha comido umas iscas de fígado com cirrose, dum porco de sua criação!
A professora Bruna Real, de 27 anos, contratada pelo Município de Mirandela para dar aulas de enriquecimento curricular na Escola Básica de Dona Chama, farta de receber uma bagatela pelo serviço que prestava (ronda os 10 euros à hora) e para amealhar mais uns trocos, resolveu posar nua para a revista “Playboy” e incendiar de polémica o país, em geral e a região transmontana, em particular, ao ponto do Município a ter suspendido das funções de docência, por achar indecente que esta tenha deixado ao léu a passarinha.
Agora a professora atrevida terá de, no arquivo municipal, para onde foi recambiada por castigo, soar as estopinhas para justificar o salário honrado e manterá a “avezinha” na gaiola, como manda a boa regra.
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O Presidente da República, com os dentes cerrados, foi obrigado a promulgar a Lei que permitirá o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
E está muito bem assim. Cada um, e cada uma, casa com quem quer, como quer e quando quer, que ninguém tem nada com isso.
E quanto ao “casai-vos e multiplicai-vos”, bem, isso é mais uma das tretas conservadoras da Igreja, das quais já não reza a história. Sejamos modernos. Não temos que meter a matemática nas relações dos homens, e das mulheres, caramba!
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Portugal, pelos vistos, deve as penas aos pássaros, daí que tenha sido aprovado o PEC (Plano de Estabilidade e Crescimento) que irá vigorar até que se equilibrem as contas do país.
Bem, até acredito que com estas medidas de austeridade se ponham na ordem as contas, mas não estou certo que isso vai contribuir para por ordem no país. Em casa onde não há pão!...
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Querendo dar uma estética/visual especial às tílias que adornam a vila de Terras de Bouro, uns podadores de se lhes tirar o chapéu, quiseram dar chapéu novo às jovens árvores. Daí que as podaram em forma de chapéu à marialva, ou então, chapéu à rebimba (de aba larga) e eis que este se transformou em chapéu dum pobre.
É ver agora as arvorezinhas de ramo caído e triste e folhas secas de vergonha.
Porque me aconcheguei à sombra de uma árvore agitada e adormeci lembrado de tudo esquecido me mim e nem uma, nem outra me quis acordar porque sonhava sorrindo… faço poemas
Já foste pedaço da minha noite poisada em mim até ao adormecer. Já foste pela minha madrugada adentro querendo-te ainda mais que ao sono. Já foste a minha noite toda precedida pela manhã… Hoje és tudo em todo o meu dia e a todos os instantes; és composição maior do ar que respiro. Mas serás, e quero eu sejas todo o meu respirar inspirando da tua boca o meu sobreviver…
Leva à dor que te serpenteia o peito pétalas de rosas rubras grávidas de aromas e saberás, sempre de mim e do meu cheiro Fica aconchegada ao meu peito calmo e quente se a Primavera quiseres logo ao desabrochar das primeiras flores imaculadas, ainda, de pó...
Se onda de mar me quero és a praia onde me quero a quebrar Se sou barco à vela que vagueia, perdido o norte és o vento que lhe sopra ao pano o rumo… Se a noite opaca me escurece e uma parede de sal me esconde és a luz maior que se lhe acende no céu e a última gota de água doce guardada Se a manhã me enternece os olhos ao ver o mar azul abraçar o areal és tu, grão de areia bronzeado ao sol o tesouro maior pelo qual me quis navegador…