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POEMAS E RECADOS

poemas e textos editados e inéditos de JOÃO LUÍS DIAS

POEMAS E RECADOS

poemas e textos editados e inéditos de JOÃO LUÍS DIAS

Porquê, senhora?!

 

Perdoe-me que lhe pergunte, senhora:
Que tempo falta para esta tarde acabar?

Eu sei, não sabe como eu não sei!
Perdoe-me que lhe pergunte ainda, senhora:
É fumo ou nuvem aquela mancha cinzenta no céu?

Eu sei, não sabe como eu não sei!
Perdoe-me que lhe pergunta ainda mais, senhora?

Por que será que quando o vento agitas as árvores

as folhas voam todas na mesma direcção?

Eu sei, não sabe como eu não sei!
Uma só pergunta mais lhe farei, prometo

me perdoando, senhora:
Por que chora, me não parecendo triste?!
Eu sei. Desta vez sei, mesmo que me não responda:
chora porque não sabe como eu não sei
o tempo que falta para esta tarde acabar;
se é fumo ou nuvem a mancha cinzenta no céu;

por que voam as folhas todas na mesma direcção

quando o vento agita as árvores.
E não sabe, como eu não sei, rir
quando sabemos tão pouco de tudo
e quase nada de nós!...
Mas deveríamos aprender, senhora
porque as lágrimas são preciosas demais
para traduzirem a nossa ignorância!

E assim parto...

 

Duas mãos soltas
uma que me desbasta o pensamento
outra me escreve.
Um coração que bate desordenado
qual corda de relógio solto ao calendário
e um outro que espreito e pulsa.
E assim parto para o poema.
O céu, quase nem cinzento
a esconder-se no anoitecer
me não desanima.
E nem a falta de luz
me calará o verso;
tenho a fogueira acesa
e o rebentar das brasas
a despertar-me o peito!...

Chorona

 

Por que te peço mais
se vi a última lágrima desencantada
descer órfão pelos teus olhos?!
Por que te peço mais
se outras lágrimas te vi descendo
quando sorrias
e no chão, caindo
de cada uma delas se erguiam
dum ladrilho em festa
mãos cheias de brilho
dos teus olhos para os meus?!
Por que te peço mais
se já me deste
o melhor dos teus olhos e de ti?!...

Saudade à meia tarde

 

Olho quieta a minha sombra
ouço calado o meu silêncio
ali, ao calor da meia tarde.
E a saudade
apenas ela
me não querendo inerte
acesso ao sol
de peito sufocado
me vai salpicando no rosto
pingos frescos dos teus olhos
que vertes, sorrindo
quando me sabes de ti...

Roseira antiga

 

(à minha mãe)
 
Estive no teu jardim, mamã
e olhei a roseira que plantaste num mês de Fevereiro
quando soubeste do meu primeiro verso.
Vai subindo pela parede, abraçada a ela
e falta pouco para que se abeire da janela do teu quarto.
Temo, mamã, que a última rosa a florir
da roseira do meu primero verso
ao te bater na vidraça
não te encontre lá para te presenteie de aromas que lhe conheces!...
Hoje, mamã, estive no teu jardim
e desejei que a roseira suba a parede devagar
sem que a tenha que podar
para que não chegue depressa demais…