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POEMAS E RECADOS

poemas e textos editados e inéditos de JOÃO LUÍS DIAS

POEMAS E RECADOS

poemas e textos editados e inéditos de JOÃO LUÍS DIAS

Coração de Algodão

 

Sento-me e espero nas pedras frias
à luz ausente…
secando ao fresco dos dias
às noites desanimadas 
flores nos meus olhos

se pingos mornos dos teus
tardarem com teu sorriso.
Sento-me e descanso

cansado de te não ter
neste cinzento entristecer 
dos dias que me consomem...
Lembro-me de ti

e quero tudo de ti;
tudo é presente!
E em mim estás ainda mais

amada minha
a cada sopro do teu respirar
se me traz sementes

do teu coração de algodão…

 

Nova Edição CALIDUM

 

"MEMÓRIAS DE UM COMBATENTE"

         (crónica de guerra)

 

Autor Pontes Oliveira

 

Edição CALIDUM (Abril - 2011)

 

Apresentação pública: 12/06/2011

Local: Auditório do Centro de Animação Termal do Gerês

  

 

Enquanto fundador e presidente da direção da CALIDUM - Clube de Autores Minhoto/Galaicos, quero saudar o autor e amigo Pontes Oliveira pela magnífica obra que connosco traz à estampa, onde num relato fiel e na primeira pessoa nos mostra, libertando-se também, como viveu e se viveu a guerra colonial portuguesa em África, numa das suas três frentes: Angola. 

E porque a memória, se partilhada à mira da letra, pode, paradoxalmente, adormecer noites de pólvora ainda acesa na garganta. Os traumas, se não se apagam, podem, pelo menos, arrumarem-se...

 

João Luís Dias


Eterno

 

Quando se sente e se diz assim é porque algo enorme existe...

E o resto será apenas resto

Obrigado companheio por me embargares o sentir e os olhos

 

(poema, piano e voz de Pedro Barroso)

 

 

 

 

Mel e açucenas

 

Acolhe-me trémulo

sente no peito o pulsar do meu!

Abraça-me

segura-me no teu corpo

e sabe do sangue que me ferve

no escorrer dos braços

sem margens

sem represas

como rio de rumo ao sul

esquivo ao norte

à tarde em chamas!

Olha-me humedecido

acalma nos teus olhos

a tempestade

que se levantou nos meus

quando o céu rompeu as nuvens

à farpa aguda

da saudade e do desejo!...

Apara-me o verter da boca

nos teus lábios de mel

talhados de açucenas

e ama-me;

ama-me demasiadamente…

e adormece-me depois

na cama do teu colo!

 

 

Sérgio Godinho - Homenagem

 

"O PRIMEIRO DIA" DO RESTO DA TUA VIDA

 

Porque a vida deve recomeçar, sempre que a queremos ainda melhor...

 

 

 

A princípio é simples, anda-se sozinho,
passa-se nas ruas bem devagarinho
está-se bem no silêncio e no borborinho
bebe-se as certezas num copo de vinho
e vem-nos à memória uma frase batida:
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida!

Pouco a pouco o passo faz-se vagabundo
dá-se a volta ao medo e dá-se a volta ao mundo
diz-se do passado que está moribundo
bebe-se o alento num copo sem fundo
e vem-nos à memória uma frase batida:
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida!

E é então que amigos nos oferecem leito,
entra-se cansado e sai-se refeito
luta-se por tudo o que se leva a peito
bebe-se e come-se se alguém nos diz bom proveito
e vem-nos à memória uma frase batida:
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida!

Depois vêm cansaços e o corpo fraqueja
olha-se para dentro e já pouco sobeja
pede-se o descanso por curto que seja,
apagam-se dúvidas num mar de cerveja
e vem-nos à memória uma frase batida:
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida!

E enfim duma escolha faz-se um desafio
enfrenta-se a vida de fio a pavio
navega-se sem mar sem vela ou navio
bebe-se a coragem até dum copo vazio
e vem-nos à memória uma frase batida:
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida!

Entretanto o tempo fez cinza da brasa
outra maré cheia virá da maré vaza
nasce um novo dia e no braço outra asa,
brinda-se aos amores com o vinho da casa
e vem-nos à memória uma frase batida:
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida!

 

 

VIAGEM

 

Abram-me as portas da rua
cubram de asfalto a estrada
quero um chão onde poisar
vou com pressa atrás da lua
não poderei tropeçar

Estou com pressa, sem tempo
tenho hora para chegar

Lembrem-me a cesta de vime

e uma faca afiada
vou invadir os jardins...
soltar flores na caminhada
Acordem-me na madrugada
não esperem o galo cantar

Estou com pressa, sem tempo
Tenho hora para chegar

Tenho pressa
abram-me as portas da rua...
estou de tempo marcado
para ir a nenhum lado! 

 


Estação - cantado

 

Pediu lume e acendeu o instante
Entregou no rio, ao fundo, o olhar
e deixou possuir-se sem pressa…
Voltou aos versos que lhe escorriam das mãos 
trémulas
molhadas
vertendo no chão gotas mornas de si
e pediu ao silêncio que lhe declamasse a noite
ali, na estação
à espera da última partida…

 

 

Com um abraço ao Afonso, à Bárbara, ao Nuno e ao Pinho, músicos privativos da CALIDUM e obreiros desta canção, que me surpreendeu na apresentação de "Coração de Algodão"

 

 

 

 

 

 

Valsa dos olhos

 

Valsam tristes os meus olhos

se não valsarem nos teus

Valsam tristes os meus olhos

se no ladrilhado onde valsas

não há flores que te colhi

Valsam tristes os meus olhos

se valsas e eu não estou…

Valsam tristes os meus olhos

se nas voltas da valsa que quero

elas se não voltam para mim

Valsam tristes os meus olhos

se a valsa

sem ti nos braços

não chega ao fim...

 

 

Cana verde

 

Quando solta a cana verde

do fole da concertina

até o luto se esconde

no coração, que se anima!

 

 

Em homenagem à minha terra e à sua mais genuína cultura.

Porque esta é o seu maior património.

 

João Luís Dias (o poeta da nossa montanha)


  

 

(rusga popular ao toque da cana verde, nas festas em Terras de Bouro)