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POEMAS E RECADOS

poemas e textos editados e inéditos de JOÃO LUÍS DIAS

POEMAS E RECADOS

poemas e textos editados e inéditos de JOÃO LUÍS DIAS

Promessa

 

 

Beijar-te-ei ternamente
Beijar-te-ei docemente
Beijar-te-ei apaixonadamente
Beijar-te-ei loucamente
Beijar-te-ei, mesmo, indecentemente
Beijar-te-ei eternamente...
se a tua boca me trouxer à minha
o saber que te vejo nos olhos

e o sabor que te sei no coração...

O teu poema

 

Depois do poema 
onde me inventaste na enormidade dum verso 
Depois do poema que procuravas 
e onde me encontraste e quiseste 
na simplicidade das palavras 
Depois do poema...
podem calar-se os anjos 
internar-se silenciosamente os pássaros

podem os pingos de chuva multiplicar-se em milhões 
crescendo os rios, fartando as fontes 
que sentirei cá dentro 
temperada 
uma eterna Primavera 
de amanhecer claro 
de sons, de cores, de aromas... 
Sei e soube-me bem 
o teu poema!

Zorba, o grego

 

A FOX bloqueou o vídeo de "ZORBA, O GREGO" ao mundo. Vejamos a parte final deste magnífico clássico do cinema. 
Era bom que a cultura fosse - sempre - património de todos...





Da Pólis (cidade-estado), da filosofia, da democracia. Foi tanto que a Grécia deu ao mundo. Não receberá agora humilhação. Nunca! Porque a sua história paga todas as dívidas e ainda tem direito a retorno...



SERÃO NO GERÊS

 

Tango

 

Olho o pinhal pela copa da rama
e ao fundo o mar...
Quer um, quer outro
me parecem inquietos.
E sopra-me uma vontade enorme
de rumar ao sul
de dançar um tango
e sentir o teu cheio
a saciar-me nesta noite.
E ouço a melodia
e fervem-me as veias.
Transpiro e arrepio
e morro mil vezes de desejo.
E tenho o chão
ladrilhado de pétalas que te quero...




Meia tarde

 

Olho quieta a minha sombra
ouço calado o meu silêncio
ali, ao calor da meia tarde.
E a saudade
apenas ela
me não querendo inerte
aceso ao sol 
de peito sufocado
vai-me salpicando no rosto
pingos frescos dos teus olhos
que vertes, sorrindo
quando me sabes...



Uma espécie de crónica

 

Desta vez queria escrever um texto fantástico. Como que uma espécie de crónica, onde nela desenvolvesse uma ideia genial e aí soltasse todas as melhores palavras e com elas prendesse à leitura até o mais desprendido destas coisas da escrita. Desta vez queria escrever algo mesmo soberbo!
Bem, mas não o conseguirei, claro. Que raio de mania tenho de me iludir com feitos inatingíveis! Que apetência tenho para me deixar perder em delírios do espírito, emoldurados de ambição desmedida!...
Desta vez queria escrever algo à maneira e obrigam-me os olhos a fixar-me em seis colunas de cimento armado, que sustentam um edifício com algumas janelas e sem varandas nenhuma.

Mas como poderei escrever alguma coisa que valha, se, para além das colunas e das paredes do edifício que aquelas suportam, só um passadiço frio tenho para procurar motivos para desenvolver num texto e nele alinhar mesmo as maiores palavras e as mais ricas figuras de estilo literário?!
Hoje, quando queria escrever o melhor recorte de palavras de sempre, tenho apenas para motivo de inspiração meia dúzia de colunas a suportar um edifício sem varandas e um passadiço, por onde se passa e cospe no chão.
Bem - passe o esquecimento - pregada na parede do edifício, fixado pelas colunas que, com o adiantado destas, formam uma espécie de arcada, existe uma caixa de levantamento automático – multibanco – onde, à míngua, se vai colhendo da parede o magro salário e reforma, a quem nem tempo lhes dão para poisarem, para algum temperamento, em depósito. E vão rindo os bolsos e vão gemendo os juros… e vão parando no passadiço, em frente à caixa aprisionada na parede do edifício com janelas mas sem varandas, aqueles que aos pouquinhos vão sacrificando o pé-de-meia, que um dia quiseram fazer crescer, acomodado e guardado na caixa-forte da sua legítima ambição, fruto do amargo trabalho de sol a sol de tantos dias!...
Queria escrever uma crónica maior e obrigam-me os olhos a colher inspiração em seis colunas, num edifício, numa arcada, num passadiço, numa caixa de levantamento automático, crucificada numa parede, onde se levanta à míngua dinheiro e se cospe no chão, enquanto se espera, como que por uma esmola da parede.
Queria escrever algo maior, soberbo, mas não é fácil, se aos meus olhos me prendo e eles me oferecem pouco… E nem eu sei se, assim, conseguirei, com vontade, escrever, a sério, algum dia!