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POEMAS E RECADOS

poemas e textos editados e inéditos de JOÃO LUÍS DIAS

POEMAS E RECADOS

poemas e textos editados e inéditos de JOÃO LUÍS DIAS

QUESTÃO DE FE

 

Já te inventei os olhos

prendidos na praia

de areias caladas

quietas no chão.

Já te inventei o sorriso

perdido no mar 

em ondas temperadas

quebradas em espuma.

Já te inventei os cabelos

soltos no vento que passa

soprado pelo frio.

Já te inventei a chuva no rosto

a seda nas mãos...

mas o coração

nunca to inventei

porque te sei dele; 

porque o tenho aqui comigo

e o sei aconchegado!

 

SILÊNCIOS

 

Se um dia fosse senhor

de qualquer coisa que fosse:
de uma rua empedrada
de três casas num caminho
duma terra despovoada
duma serra abandonada
dum lírio roxo sozinho
não me queria
acomodado
conformado
envaidecido
porque servo era do silêncio
do pó, das pedras, da urze
e pouco mais...

 

 

VITRAL

 

Hoje não choveram rendas
e no vitral goteado na manhã
vi tricotado em seda pura
com fios de lágrimas rubras
o sorriso que tinha emprestado ao luar
que o devolveu




São putas, mas nem por isso menos "princesas", menos poesia...

INTUIÇÃO

 

Não te sei dos pulsos
não sei como estendes os cabelos.
Não te sei da boca
não sei onde te assentam os pés.
Não te sei das ancas
não sei quando te cansa o olhar.
Não te sei dos seios
não sei se te humedecem as mãos.
Não te sei…
não sei…
Mas vales demais
porque sabes que te quero inventar
a meio caminho 
do coração e dos versos.



e para complementar o poema...




MARTIN SCHULTZ

 

MARTIN SCHULTZ - Presidente do Parlamento Europeu

Quando os homens são MAIORES...



Ao final da manhã desta sexta-feira viveu-se um momento diferente junto às escadarias da Assembleia da República. O Presidente do Parlamento Europeu, que cumpre visita a Portugal, decidiu falar com as dezenas de feirantes que se manifestavam no local. Fez que o seu séquito descesse as escadarias e deu a cara, ouvindo as preocupações de quem protestava e endereçando uma palavra de conforto. No final, viam-se lágrimas de emoção na cara daquelas pessoas que o ouviam.



http://www.tvi24.iol.pt/politica/martins-shulz-feirantes-tvi24/1408900-4072.html


Ao POETA DA MONTANHA

 

O poeta estava só. Era o último homem do sentir e do saber, porque os cinzentos tinham invadido a cripta do conhecimento e haviam selado a porta.

O poeta fugira e habitava então os montes mais altos que havia no lugar.
E ficava cogitando, lá, no sítio onde, a génio, dormia em camas de morrinha e pasto tenro.
Lavava-se com orvalho gotejado das manhãs, enquanto, obrigado pela vida, trabalhava num espaço fechado, onde se vingava sonhando o Céu e a Lua o dia inteiro.
Era difícil ser poeta por ali, na pátria velha onde os outros todos já tinham perdido a alma.
Mas ele vivia o lado de dentro do arco-íris. Vivia para o sonho e a paz.
Vivia para criar beleza nas palavras e nos sons, musicar a fala. Amar o amor. Saber.
Vivia por dentro do acto difícil do sentir. E sobrevoava o teatro imenso da Natureza toda, fascinado. Coisas da solidão, difíceis de explicar.
Insistir no discurso era árduo. Era como uma enxada cavando em granito, fealdade e frieza. Isolado nos montes… todos os dias, era difícil.
Então foi buscar poetas aos montes e prados vizinhos. Juntaram-se e beberam o hidromel das vestais e dos deuses. Juntos, tornaram-se revolta.
E do cinzento nasceu a paixão do impossível. Descobriram a cor. Tornaram-se lenda e imagem. Mais fortes os laços, mais montanha nos dedos, mais amizade nas veias.
E assim aprenderam a dar as mãos e a sentir mais, nas águas cálidas e límpidas da fonte da inteligência.
E prometeram para sempre, por cada poema, uma flor.
Aos olhos de uma mulher absoluta, nascida da bruma e do arrepio.
Juraram pela mulher ideal. A que vive em cada sonho de poeta, em cada amor amargo e doce como a vida.
E assim nasceram para um amor florido e puro. Como o cristal imenso de um olhar meigo quando nos diz: quero-te.
E a montanha fez-se de todas as cores, em flores e fantasia. E a comida do sonho tornou-se o néctar da eternidade.
E só viver esse sonho de palavras e beleza vale a pena. Dizem os eternos sonhadores.
Os tais que afinal, são eles, e apenas eles, os construtores do futuro.
E pagam cada poema com uma flor. E vivem na cripta solene da eternidade e do sentir.

 

 

Pedro Barroso, in "Um Poema, uma Flor", de João Luís Dias

 

TESTEMUNHOS

 

"A evolução de JOÃO LUÍS DIAS tem sido um dos casos mais (de) flagrantes de vocação poética que tenho presenciado. Com efeito, sempre dele colhi a impressão de uma iniciativa elástica, uma visão fulgurante da ideia, uma capacidade genuína de entusiasmo permanente e contagiante. Mas hoje há que somar a tudo isso o génio poético puro."

PEDRO BARROSO (autor/cantor/compositor)




Blogue pessoal de José Guimarães Antunes

 

João Luís Dias, o Poeta da Montanha

Quando falamos de Terras de Bouro, teremos de falar necessariamente das nossas boas gentes e da sua alegria, do toque das nossas concertinas, das nossas festas populares, do Gerês, das barragens, dos rios de água límpida e cristalina, das paisagens belíssimas… E sempre que enumerarmos as nossas coisas boas, lembrar-nos-emos orgulhosamente do nosso Poeta da Montanha e da sua sensibilidade estética que nos revela o “Ser” e o encanto do que, sem ele, para nós não seria.

Depois do enorme sucesso da primeira apresentação realizada no Salão Nobre dos Paços do Concelho de Terras de Bouro, no dia 22 de Novembro de 2008, João Luís Dias, escritor e presidente da direcção do Clube de Autores Minhoto-Galaicos (Calidum) apresentou, na Fnac - Braga, no dia 12 de Março, pelas 22 horas, a sua obra mais recente – “Um poema, uma flor”.
O espaço Fnac encheu-se para acolher a poesia simples, bela e livre da influência de correntes literárias. Mas para que haja grandes escritores e poetas é preciso também que haja um grande público. E disso o nosso “Poeta da Montanha” não se pôde queixar.
“Um poema, uma flor” reúne trinta e cinco poemas extraídos do descarne íntimo e sincero do nosso escritor terrabourense. Os versos sem concessões a rima ou a deslumbres formais caracterizam o estilo do nosso “Poeta da Montanha”. Ilustram esta obra poética dezassete maravilhosas fotos de Sun Lam, de Pequim, directora do Instituto Confúcio – Universidade do Minho. Ao folhearmos o livro deleitamo-nos com fotos de ventres de flores, quase todos de evocação da mulher, saídos da simplicidade dos sentidos.
No espaço Fnac, a obra “Um poema, uma flor” foi, novamente, apresentada por Costa Guimarães, jornalista do “Correio do Minho”, que a considerou uma combinação perfeita entre a poesia e a natureza tendo sublinhado, mais uma vez, que “os homens normais fazem prosa e os homens singulares fazem poesia”. Quem não concorda com Costa Guimarães? Na verdade, a criação poética é um mistério indecifrável e que não está ao alcance da maior parte do comum dos mortais. A arte da criação poética não se aprende nos livros e não pode ser ensinada. Não se conhecem receitas para ensinar a composição de um verso ou de um poema.
De facto, os poetas são nossos mestres, nós que somos homens vulgares, e bebem em fontes que nos estão vedadas a todos nós. E um grande poeta, de acordo com o escritor inglês Gilbert Chesterton, “existe para mostrar ao homem pequeno o quanto ele é grande”.
Para mim, João Luís Dias é um grande poeta que deve orgulhar-nos a todos nós terrabourenses! Vou mais longe e ouso dizer que João Luís Dias é um «pastor do Ser», na tão bela expressão de Heidegger.
De facto, a sua sensibilidade estética revela-nos o “Ser” e o encanto do que, sem ele, para nós não seria. Bem haja ao nosso “Poeta da Montanha”, aos seus versos e ao seu grande amor pela poesia e pela cultura!
Obrigado, João Luís. Tão só: muito obrigado por partilhares connosco a tua inspiração, o teu talento e os teus poemas!
http://zecaalmeida.blogspot.pt/2013/01/joao-luis-dias-o-poeta-da-montanha.html

CANTARES DAS JANEIRAS II

 

Outro ano, uma vez mais
Aqui’stamos a cantar
Nesta festa das Janeiras
Para Jesus evocar
Trazemos nova alegria
Melodias, emoções…
Nas palavras, novos versos
Rimas soltas nas canções
Trazemos rios lavados
Espuma branca do mar
Folhas sopradas p’lo vento
Noites lindas de luar
E no olhar, um sorriso
Em ambas as mãos a paz
Trazemos mais um amigo
Ninguém fica para trás
Trazemos lírios do campo
Perfumados p’las manhãs
Urze colhida na serra
Favos de mel e maçãs
E no olhar um sorriso
Que não se quebrará jamais
Nesta festa das Janeiras
Uma vez mais
Nesta festa das Janeiras
Uma vez mais

CANTARES DAS JANEIRAS

 

Foi-se mais um ano
Mais um ano vem
Esperança, precisa
Também

Caíram as folhas
Revolta-se o mar
Isento à tormenta
O cantar

Que se eleve a alma
Ferva o coração
Insista e resista
A razão

Não me calarei
Mesmo em desalinho
Se este me anima
O caminho

Que o vento frio
Soprado de fora
Não nos cale a voz
Mande embora

Que se erga o canto
Dure a tradição
Que esta é maior
Saberão…

Entre amigos´estamos
Dissemos “presente”
Cantando as janeiras
P´ra sempre…



Continuação de boas festas



João Luís


NUCLEAR

 

Nasce o dia

e o sol atrasa-se
no acender da luz.
Nasce o dia
e a fruta azeda nas árvores
vertendo o último doce
no chão já frio.
Nasce o dia
e os pássaros 
permanecem quietos
pousados no sono atordoado.
Nasce o dia
e as flores querem-se escondidas
abafadas no próprio aroma.
Nasce o dia
e até ele se intimida
sabendo da mira certeira do veneno
que a noite lhe apurou...