MAR DE LUME
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Foram-se os dias curtos demais
Ficaram as noites longas demais
Foram-se os sonhos grandes demais
Ficaram os sonos pequenos demais
Foram-se as pernas que corriam demais
Ficaram as forças, cada vez de menos
Foi-se a cor dos cabelos
Foram depois os cabelos
Foram-se as lembranças...
Ficou perto demais a solidão
Ficou para trás a juventude
Ficaram outras vontades…
Ficou um amontoado de recortes duma vida
Ficou tão longe tanta coisa!
Ficou o resto que sobrou
Foi-se embora o que queria ainda
Ficou só um pouco do que foi...
Ficou o saber, a ternura
Ficou a lágrima teimosa nos olhos
Ficou o cansaço
Ficaram os dias e as tardes que lembra...
Ficou o mesmo cinzento
Ficou a mesma chuva, o mesmo sol
Mas o frio
Fica cada vez mais!
(inédito)
Não desgosto, por vezes
do ruído dos automóveis
ao passar nas ruas da cidade.
O som do silêncio
chega a fazer ruído maior.
Hoje também faz;
o da chuva consegue irritar-me
porque monocórdico.
Uma seca!
Hoje quero ensurdecer
à minha janela
no ruído feito no meu silêncio;
sem chuva a cair
sem automóveis a passar
sem mais ninguém calado.
Só eu e ele, aos gritos...
SÓ QUANDO O PAÍS SE ESTENDER PELO PAÍS TODO, VOLTARÁ A SER UM PAÍS A SÉRIO!...
NÃO DUVIDEM, SENHORES, AÍ NO VOSSO IMPÉRIO CONFINADO A UM CHÃO DE NADA!
apeteceu-me olhar por onde me mostro muito mais, ou menos, do que sou...
Um dia uma princesa, num dos seus passeios pelas terras do seu reino, viu uma fonte de água na beira do caminho. Com sede, pediu ao seu servo para a ajudar a descer da montada para dela beber. E por ser tão fresca e limpa aquela água, bebeu consoladamente e saciou a sua sede.
No dia seguinte, à mesma hora, ao passar pela mesma fonte, a princesa não quis beber dela, para surpresa do seu servo, que lhe perguntou:
- Porquê, senhora, se ontem disse ser uma água deliciosa?
Ela apenas respondeu que não podia beber mais.
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Correram rumores pelo reino que aquela fonte de água tinha secado, por se ter sentido responsável por indisposição grave da princesa…
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Moral da história:
Há tempos para se querer, ficar, sentir e sair, sob pena de desacreditado o valor da
permanência...
No Gerês, o amor, ao morno da chuva miudinha, que testemunhei.
Um abraço, Inês. Um abraço, António.
Sejam felizes!