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POEMAS E RECADOS

poemas e textos editados e inéditos de JOÃO LUÍS DIAS

POEMAS E RECADOS

poemas e textos editados e inéditos de JOÃO LUÍS DIAS

DIA DOS IRMÃOS, com certeza

 

Se dias há para lembrarem ou consagrarem quase tudo, acho muito bem o “dia dos irmãos”.

E daria para exaltar esta efeméride, um texto simples, redigido por qualquer um, ou mesmo um poema, se qualquer um alinhasse as palavras num rectângulo com os lados maiores na vertical, com adição de algum lirismo, algum perfume, ou outras coisas que nos saem de dentro e que nem sabíamos que estavam lá encaixotadas…

Falar dum irmão é dizer quase tudo de nós, com a diferença, apenas, que o fazemos com um megafone seguro nas mãos, encostado à boca e ao compasse do tic tac do coração.

Não digo mais, por temer dizer de menos. E a Alice, a Goreti, a Isilda, a Ana Maria, a Teresinha, a Elisabete, o Isac e o Zeca, meus irmãos, merecem que fale deles sempre de mais.

 

João Luís

 

 

SOUBE AGORA, ZÉ CID...

 

Ah!, hoje, algum tempo depois (sei anos, parece-me) de teres dito o que disseste, "as pessoas do Portugal profundo", incluindo as de Trás-os-Montes, finalmente evoluíam um pouco. Já sabem, por exemplo, sem necessidade de palpação, o peso dos tomates dum boi barrosão; sabem distinguir uma alheira de Mirandela, de uma pila mole, dobrada e atada com um cordel e sabem - vê lá tu! - na área da música, que num sustenido sobe-se meio tom e num bemol desce-se.
E tu, que aprendeste, pelo menos, a distinguir a vaidade e ego cheio (de pouco) da falta de respeito?
Toma um abraço dum minhoto, que até ao pé-coxinho chega, e gostar de chegar, a Trás-os-Montes.

 

 

 

 

 

UMA PRENDINHA PARA MIM

 

De Cabo Verde, duma jovem estudante do ensino secundário e promissora poetisa, foi-me dedicado e enviado este belíssimo poema que me enterneceu e deixou com o peito cheio de nobreza.
Vale a pena escrever, se pode chegar tão longe um poema, uma mensagem, um “sentido”, uma semente das palavras…
Apreciei e agradeço o recorte poético a “Flor Gaela” (só lhe sei este nome/pseudónimo).

 

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REQUIEM

 

(de janelas fechadas "não se vê o futuro")

 

Quando o litoral um dia se fartar
as cidades cansarem do excesso
as pessoas já não se identificarem
nas montras e nos espelhos
os montes e as serras secarem no vazio
e adormecerem num perpétuo silêncio
saberão o mal que fizeram a um país!
E então poderá ser tarde para encontrar
tanta coisa que se perdeu
entre pedras caídas
e flores e memórias sepultadas...
E não estranhem depois
se o cuco não cantar no mês de maio!

 

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UMA ALDEIA SÓ

 

Era domingo de sol. Parei a meio da tarde numa aldeia que outrora conheci.
Lembro-me que, então, no terreiro central dessa aldeia muitas crianças corriam e brincavam. Era de ensurdecer os gritos da sua animação. As moças, já espigadotas, namoriscavam sentadas no muro da escola, com o olhar atento das mães e a curiosidades das outras mulheres. Os rapazes jogavam à bola no recreio da mesma escola, que confinava com o terreiro. Os homens, com o olhar atento dos mais idosos, jogavam às cartas num espaço improvisado da mercearia e refrescavam a tensão com umas tigelinhas de vinho verde da região.
Comportamentos simples na pacatez daquela aldeia.
Foi assim que eu a tinha visto e conhecido. Era esta imagem que eu guardava e que me levou a voltar lá.
Não foi assim que agora a encontrei. Doeu-me o silêncio!
Não vi crianças a brincar, moças entretidas nos muros, bolas lançadas contra as paredes pelos rapazes, mulheres a fervilharem de desdém. Vi apenas velhos, cada vez mais velhos, na mesma mercearia, mas agora a beberem refrigerantes, por conselho da fragilidade da idade e da saúde. Chocou-me ver aquela aldeia tão só!
A ausência de alternativas bateu teu forte demais nos filhos daquela terra. Os prados já não os prendiam. Os pinhais começaram a sombrear demais os seus anseios. A paisagem circundante, imensa de beleza, já dava muito pouco a quem mais queria e precisava. As razões eram demais para partirem...
Fiquei sozinho com aquele silêncio.
Fui olhando as pedras que permaneciam quietas na decoração sublime daquele pedaço de mundo só.
Quis convencer que, pelos menos, as pedras e paredes irão resistir...
E fotografei o cão, como guardião do silêncio.

 

 

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