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POEMAS E RECADOS

poemas e textos editados e inéditos de JOÃO LUÍS DIAS

POEMAS E RECADOS

poemas e textos editados e inéditos de JOÃO LUÍS DIAS

A MENINA QUE GOSTAVA DE TERCETOS

 

Dum poema com um só verso, não gostava. Achava-o pequenino demais. Entendia que com uma linha de palavras, pouco se poderá dizer, para que se ache um poema. Uma frase duma linha com palavras bonitas, bem construída, poderosa na mensagem, pode ter muito valor, mas uma linha de palavras para poema é pouco. Muito pouco.

Dum poema com dois versos, continuava a não apreciar. Claro, sabe que se pode dizer mais com duas linhas de palavras do que com uma só. Duas linhas sempre são dobro de versos, mas mesmo com o dobro de palavras e de versos, ainda não será suficiente para escrever um poema cheio de esplendor.
Dum poema com três versos, um terceto, adorava. Aqui sim, com três linhas de palavras já se consegue fazer um poema maravilhoso e dizer nele tudo de grandioso que as palavras podem transmitir. Com três versos pode, num deles, descrever-se o nascer dum dia bonito de verão, no outro, pode mostrar-se como foi magnífico esse dia e no terceiro verso, pode falar-se da saudade que este dia ao anoitecer, e quase a tornar-se noutro dia, já nos deixou. Sabe bem que as três linhas de versos, tal como as três sílabas da palavra sau-da-de, ou as três letras da palavra m-ã-e, são bastantes para se fazer o melhor e maior poema do mundo.
Para menina que gostava de tercetos, havia ainda um outro motivo, mas este não justificava só por si o seu gosto por poemas com apenas três versos: era um pouquinho preguiçosa para ler poemas com muitos versos. Mas sabe bem que se três sílabas, ou três letras, servem para grandes palavras, um terceto serve e é suficiente para um grande poema.

 

 

PAIXÃO

 

 

Se quiseres saber o que é “estar apaixonado”, não o perguntes a quem está, ou esteve, nos braços de alguém que se queria; pergunta-o a quem quer estar nos braços de alguém que se quer. Porque a paixão é um ato emocional, por vezes irracional, elevado ao expoente maior do querer, do acreditar e do inventar… com dose grande de fé.

 

 

João Luís Dias

 

 

 

 

CHÃO DE PÚRPURA

 

Demora-me na tua boca
no fogo brando dum beijo
até ao embriagar dos olhos.
Sente na pele, em cada poro
mil arrepios de emoção, nobres de carícia
quando te acordarem os seios
no trémulo das mãos que os afagam.
Dispo-te a renda no chão de púrpura
sob o manto perfumado do céu
e saboreio-me de ti, no néctar que me invade.
E quer a noite toda a luz que acendamos!...
E amo-te, ao clarão aceso de luz;
tão linda, tão doce, tão meiga, tão quente
como se um anjo em febre
a derreter de amor e desejo!
E premiamos a noite toda
se esta nos pediu para a elevar
ao ímpar dum amor feito maior!

 

 

RAZÃO, SEM EMENDAS

 

Vim a correr para te ver

e me tardar nos teus olhos

onde o sol, à meia tarde

se ergueu e se pousou.

E se versos maiores procuro

enormes se fizerem

na beleza grande que irradias.

Assim, sim, há poema!

O resto…

serão apenas palavras alinhadas

ao querer da arte que se inventa…

Tu és verso completo

poema inteiro, enorme;

com razão e sem emendas!