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POEMAS E RECADOS

poemas e textos editados e inéditos de JOÃO LUÍS DIAS

POEMAS E RECADOS

poemas e textos editados e inéditos de JOÃO LUÍS DIAS

PARADOXO

 

Apenas uma árvore - a minha palmeira - 

que morrerá de pé, diferente de nós.
E é, olhando-a do chão da minha pequenez
que descubro que em cada "braço" que lhe aparo
a elevo mais ao meu olhar...
E fico quieto, como quieta ela está no seu esplendor.
E celebro-lhe a vida quando a decepo.
Paradoxo!

 

 

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Começou numa imagem, ficou num poema. E assim, neste exercício do sentir e das palavras, se fazem as coisas da vida. Eu chamo poema, mas podem chamar-lhe outra coisa qualquer. Mas é isto a poesia: dizer das coisas grandes aos pedacinhos...

 

 

 

 

 

ORQUÍDEA

 

Ferve nos olhos despertos
chuvas caídas dum céu de inverno
que depois adoça.
Derrete no peito quente
o chão gelado dum glaciar
achado no fim do mundo.
Nas mãos, afaga flores da Babilónia

colhidas antes do despertar do sono.
No jeito e génio, agita a cordilheira...
mas beija cada serra ao entardecer.
Tem nome, como de flor
perfume de pétalas prensadas
mas é muito mais que um só canteiro
mais, ainda, que todo um jardim…

 

 

 

 

SONS DO SILÊNCIO

 

Não desgosto
do ruído dos automóveis
ao passar nas ruas da cidade.
O som do silêncio
chega a fazer ruído maior.
O som da chuva é monocórdico
não aprecio.
Hoje quero ensurdecer
à minha janela
no ruído feito no meu silêncio
sem chuva a cair
sem automóveis a passar
sem mais ninguém calado;
só eu e ele, aos gritos...

 

 

 

 

NINFA

 

Não é só um verso. 

Não pode ser um verso apenas.

Um verso só não faz um poema.

E para ela

mais do que um poema inteiro

bordado de sede em seda

tem que haver

em poema ímpar e maior;

se é a ninfa do mar

ao sul dos meus olhos...

 

 

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COMO PITÁGORAS CHEGOU AO SEU “TEOREMA"

 

Ora vamos lá então saber:

Reza a história que Pitágoras não parava muito em casa e que Enusa, sua mulher, aproveitava a situação para copular com quatro soldados cadetes, que estavam acantonados ali perto.
Um dia em que Pitágoras voltou para casa mais cedo surpreendeu-os e matou os cinco, decidindo enterrá-los no seu jardim. Movido por alguma consideração que ainda tinha pela esposa, dividiu o terreno a meio e, numa das metades, sepultou-a. A outra metade foi dividida em quatro quadrados iguais, onde enterrou os soldados cadetes.
Desta forma, os quatro soldados cadetes ficaram a ocupar um espaço idêntico ao ocupado pela mulher.
No dia seguinte, Pitágoras subiu à montanha para meditar e, olhando de cima, teve uma revelação.
Era óbvio: "O quadrado da puta Enusa era igual à soma dos quadrados dos cadetes."

_________

 

(Se me tivessem explicado isto assim na escola, provavelmente não teria ido para letras.)

 

 

DIA SEGUINTE

 

A tarde já se havia cumprida
e o livro já se havia fechado
para aquele dia.
Abre-se, então, a porta
para deixar entrar e pernoitar
quieto e aconchegado
no tempero da noite
o primeiro dos versos
garantidos no dia seguinte.
Porque um poema
tal como uma lágrima
não espera mais
do que o tempo de enxugar.

 

 

MOTIVOS

 

Pela manhã
quando sol se espreguiça
no canto nascente do dia
vou à janela presentear o olhar...
Ao entardecer
quando o sol se pousa no poente
e acena a despedida
vou ao quintal agradecer-lhe
por me ter aceso o dia.
À noite
quando a lua se enche de esplendor
olho o céu e falo-lhe de sonhos…
Para encontrar
o que mais no fundo procuro em mim
iria, a qualquer hora
para lá da minha estrada
para lá do horizonte
para lá fim do mundo…

 

 

LILY

 

Apetece-me
o acordeão
no gemer sustenido
dum acorde;
o beijo dos pombos
na árvore verde
à rua cinzenta
Apetece-me...
sei lá...
saber de Paris
do sol e do nevoeiro
e saber-te
no lugar que te sei