Decepei, num dia destes os ramos duma árvore caída no chão; velha, seca, carcomida. Hoje, ao acordar do dia bebido de fé voltei ao tronco dessa árvore despida, prostrada, inerte e enxertei-lhe uns braços de vida com ramos verdes da nova primavera para que a árvore se levante do chão e volte a viver, a medrar… Porque acredito nos desígnios da chuva e do sol e da terra.
Apetece-me o acordeão no gemer sustenido dum acorde. Apetece-me o beijo dos pombos no chão da cidade e olhar a árvore verde que se agita na rua cinzenta. Apetece-me sei lá... saber de Paris do sul, do nascente do polo norte; do sol e do nevoeiro Apetece-me sentir-me... e saber dos lugares que não sei.
Ao longo dos últimos tempos o mundo tem assistido a um número infindável de catástrofes, tanto a nível económico, como social e politico; catástrofes essas que têm abalado muito violentamente os pilares sobre os quais estão assentes toda uma estrutura ideológica e cultural, mais notoriamente na zona ocidental do globo. No decorrer desta série de desastres sócio-humanitários temos vindo a deparar-nos com um cenário político que já não era avistado desde há muitas décadas, num notório retorno à grande afluência a políticas de natureza extremista, mais propriamente de extrema-direita. No passado dia oito de novembro, o mundo, ou pelo menos grande parte dele, ficou “em choque” com a vitória eleitoral de Donald Trump, que irá assumir o seu novo cargo enquanto presidente dos Estados Unidos da América, já a partir do dia vinte de janeiro do próximo ano. Este choque global deveu-se ao facto de Trump ter ganho as eleições presidenciais após uma extensa campanha, onde por inúmeras vezes expôs as suas medidas radicais e moralmente questionáveis; propostas essas em que era notória uma enorme aproximação às ideologias de extrema-direita, das quais são exemplos: “repensar as garantias de proteção aos aliados da NATO” - já referiu que os EUA já tinham cumpriram todas as obrigações para com a aliança militar; “criar uma base de dados com todos os muçulmanos que vivem nos Estados Unidos, ou expulsar 11 milhões de imigrantes clandestinos que vivem no país — e presumivelmente as suas famílias, que em larga medida incluem americanos de primeira geração; a promessa de “construir um muro grande e lindo na fronteira com o México” e obrigar os contribuintes desse país a pagar o custo da sua constrição. Esta foi uma das medidas mais discutidas de toda a campanha e que angariou enorme atenção, também por ter classificado todos os habitantes do país vizinho de "violadores e traficantes". Entre outras medidas que incentivam ao nacionalismo, ao racismo, à xenofobia, ao desprezo por determinados grupos sociais, etc. As politicas adotadas de Donald Trump foram tão extremistas que o próprio Ku Klux Klan, movimento que defende correntes reacionárias e extremistas, tais como a supremacia branca, o nacionalismo branco, a anti-imigração e, especialmente, o nordicismo, o anticatolicismo e o antissemitismo, se identificou tanto com as suas políticas que quis mesmo dar um grande apoio monetário à campanha de Trump, apoio que o candidato recusou. Também na europa, mais precisamente na Áustria, Norbert Hofer, candidato neonazi à presidência da república pelo partido Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ), esteve extremamente perto da vitória. Caso Hofer tivesse conseguido a vitória do partido neonazi na Áustria, o risco de Marine Le Pen (da Frente Nacional, aliada do FPÖ) alcançar a presidência francesa e o provável efeito de contágio na Europa, com a ascensão de formações idênticas seria enorme. Numa altura em que já todos pensávamos habitar um mundo estável, pacífico e sem restrições à liberdade independentemente da nacionalidade, etnia ou religião, estaremos nós na verdade a viver um período de transição? Ou estarão os defensores destas ideologias “radicais” iludidos eles próprios nesta ideia de segurança, estabilidade e liberdade tal, que os faz acreditar que podem virar as costas ao mundo sem que o mundo tenha o direito a retribuir?