Quero um Natal que me leve a um presépio simples; que me lembre as pedras no "campo do rio", de onde lhes raspava o musgo para construir, com farinha de milho, os contornos dos caminhos dos reis magos. Quero um Natal simples. Não quero um Natal que me faça correr, esperar, comprar… e depois ter de varrê-lo num amontoado de papéis de embrulho. O Natal não pode ser aquele que nos querem impor à luz doutros "espíritos", mas sim o que nós quisermos que seja.
O Natal é muito bonito, mas na minha terra, por esta altura do ano, é muito frio e gasta-se muito dinheiro em aquecimento.
O Natal é muito bonito, mas no meu país o dia escurece muito cedo e para se esperar até à meia-noite pela troca de prendinhas, mesmo sem valor nenhum (tipo, em quantidade e para despachar), leva-se uma seca do caraças.
O Natal é muito bonito, mas obriga-nos a decorar com bolinhas, fitinhas e luzinhas, uma árvore de plástico, que por vezes tem mais valor monetário do que uma bouça de pinheiros na serra, herdada dos progenitores.
O Natal é muito bonito, mas o cardápio da ceia de Natal não é lá grande petisco, se respeitarmos as clássicas batatas cozinhas com couves e bacalhau.
O Natal é muito bonito, mas apesar do cardápio não ser lá muito bom petisco, uns comem muito e ficam gordos, enquanto outros comem as mesmas coisas dos outros dias, e se nos outros dias comem pouco, no Natal comem pouco da mesma forma.
O Natal é muito bonito, mas o pai dele tem umas barbas muito grandes, onde lhe cai o pingo do nariz e tem uns óculos redondos fora de moda, sem piada nenhuma.
O Natal é muito bonito, mas este ano acho que não vou fazer grande festa, até porque nem faço anos nesse dia.
Neste Natal, que será outra vez muito bonito, vou, sim, oferecer ao Menino Jesus um “babygrow”, porque estou farto de o ver em tronco nu e acho que está desconfortável há mais de dois mil anos.
*Escritor (menos ao sábado, porque de manhã se levanta quase ao meio-dia, à tarde, porque tem de cortar a relva do jardim e à noite, porque está a ver na TV o seu Sporting a dar mais um abada (de golos) a qualquer equipa que lhe apareça pela frente.