Falei-te sem querer de coisas belas como quem abre janelas para lá do horizonte… E tu sem saber lá tricotavas um romance de palavras sem certezas nem futuro. E tu sonhavas no areal com um jardim de poetas superiores e verticais que, em rigor, nunca existiu. E tu, como se fosse há vinte anos sobes ao alto das rochas lá onde pousam as gaivotas sobes ao alto das dunas onde o vento te possui. Cresceu-te no peito um mar de prata como se eu fosse alguma vez isento como se eu fosse, acaso alguma vez na vida a perfeição. Mas quando te contei coisas de mim daquelas coisas grandes cá de dentro… caíste em ti do sonho e do jardim e fiz-te então amiga esta canção.
Calaste a voz trovador. Adormeceste na hora imprópria. Ficam as flores no jardim que plantaste; de tantas cores, em tantos canteiros! E ficas aqui, inteiro, eterno, porque foi esse o legado que nos deixaste... Guardar-te-ei para sempre no melhor lugar que tenho, companheiro.
Podem faltar-me candelabros, cristais azuis, jardins faraónicos, ou menores jardins de praça de cidade multicoloridos ao anoitecer, mas uma flor com perfume, colhida bem cá de dentro, nunca me faltará para uma mulher, porque lhe é devida.
Já foste pedaço da minha noite pousada em mim até ao adormecer. Já foste pela minha madrugada adentro querendo-te mais do que ao sono. Já foste a minha noite toda... precedida pela manhã. Hoje és tudo em todo o meu dia e a todos os instantes; és composição maior do ar que respiro. Mas serás, e quero que sejas todo o meu respirar inspirando da tua boca o meu sobreviver.