grávidos de aromas e candura um ventre em flor a abrir na primavera. Entontecido, porque embriagado no campo limado e morno do entardecer falei-te e disse quase nada por não saber dizer mais do teu olhar. E volta de ti um poema um poema maior declamado em sussurro que me trespassa pelo peito como flecha acesa de licor e lume tombando-me ao crepúsculo dos teus olhos no salpicar imenso das palavras. E fico internado na metáfora enorme que teceste lá dentro...
Existe um lugar lá dentro onde nos queremos eternos… Existe um lugar lá dentro onde as cinzas permanecem. Existe um lugar lá dentro onde somos para além dos gestos do toque, do sol, da chuva, do vento do cheiro das flores do arco-íris, do sono. Existe um lugar lá dentro bem no fundo, íntimo onde existimos muito e revelamos pouco.
Quebrei no teu peito um glaciar de silêncio. Poisei-me na noite e fiquei no teu colo à espera, a querer saber de mim... Falei-te intimamente soletrando cada palavra rasgada à garganta de coisas minhas, sérias enormidades do coração. Falei-te de tantas coisas que nunca ousara... Abri o livro na página que interrompera quando um dia, ao fechar dos olhos acomodado num peito morno me deixei adormecer...
Apetece-me um lírio agreste uma pedra da montanha uma praia um braço de mar uma caravela um vento a bombordo um navio a espuma branca de uma onda inquieta. Apetece-me o sal, o sol, o luar um perfume doce salpicado no peito. Apetece-me o acordeão no gemer sustenido dum acorde. Apetece-me o beijo dos pombos no chão da cidade e olhar a árvore verde que se agita na rua cinzenta. Apetece-me sei lá... saber de Paris do sul, do nascente do polo norte, do frio e do nevoeiro. Apetece-me saber de mim e saber dos lugares que não sei. Apetece-me… tudo que me leve às margens do sentir.