OBRA DO PENICO
(não ficcionado)
Aconteceu já lá vão uns anos. Era eu então um dos elementos do comando dos Bombeiros Voluntários de Terras de Bouro. Tinha acabado de tirar o curso de comandante na Escola Superior de Bombeiros, em Sintra. Passava, por isso, e deter maiores conhecimentos teóricos e práticos, exigidos a um quadro especial de bombeiros e com responsabilidad
Quero lembrar, antes de iniciar o relato, que aquela corporação, por ser ainda muito jovem e por isso muito carente de meios de combate a incêndios, pouco mais tinha que dois carros equipados rudimentarmente
Hoje a realidade é completamente diferente; é uma corporação grande e com meios, como todas.
Voltando à minha memória, o caso bizarro que me proponho contar foi o seguinte:
Num domingo tórrido de verão, alguém informa os Bombeiros dum incêndio a deflagrar numa mata lá para os lados de São Bento e que perto dele uma casa de habitação, temporariamente
Chegados perto do local, verificamos que era impossível avançar com a viatura, até porque um pequeno riacho nos separava do incêndio. Em fracção de segundos e no tempo que corríamos para o “palco de operações”, tentei assimilar tudo aquilo que aprendera na formação em Sintra, mas cada vez mais me frustrava, já que apenas segurava na mão um malho de lona e já chamuscado pelo uso. Poucos instantes depois, no local, verificamos que o fogo atingira já o cume da casa e dali até à casa ficar completamente em chamas seria apenas uma questão de pouquíssimo tempo. Já quase em desespero, olhei para todos os lados à procura não sei bem de quê, mas a verdade é que ao fundo do quintal existia um tanque com água. Mas como fazer uso dela?!... Ao rondar a casa, acabei por encontrar aquilo que poderia ajudar a aproveitar o valioso recurso ali perto: um velho penico de plástico, de cor azul clara que, como bênção, se encontrava pendurado junto a uma porta lateral.
Sem qualquer demora, pendurei-me na parede, e à medida que um voluntário me trazia o penico com água, colhida no tanque, ia-o despejando sobre a madeira já em chamas. Depois de muita água lançada, acabamos por eliminar o fogo e salvar a casa.
Foi quase anedótico, mas o que não seria sem o penico?!